Pesquisadores da saúde afastados pela ditadura: o Massacre de Manguinhos completa 50 anos

06/04/2020
Flávia Lobato (Portal de Periódicos Fiocruz)* | Foto: Icict/Fiocruz

                  Dez pesquisadores do IOC tiveram seus direitos cassados e foram afastados de suas atividades

 

Dia 6 de abril: é publicado o decreto que determina a aposentadoria de dez cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por força do Ato Institucional nº 5 (AI-5), levando à cassação de seus direitos políticos pela ditadura militar. Era o ano de 1970 no Brasil. O episódio — conhecido como O Massacre de Manguinhos  completa 50 anos neste mês e faz parte da história da Ciência no país.

O termo foi cunhado pelo entomologista Herman Lent e eternizado no livro de sua autoria, lançado em 1978, em que ele narra a repressão às atividades científicas na Fiocruz. Reeditada em 2019, a obra faz parte da Coleção Memória Viva e está disponível para download no Porto Livre, portal de livros em acesso aberto da Fiocruz.

Lent era um dos pesquisadores da lista, composta também por Augusto Perissé, Domingos Arthur Machado, Fernando Braga Ubatuba, Haity Moussatché, Hugo de Souza Lopes, Masao Goto, Moacyr Vaz de Andrade, Sebastião José de Oliveira e Tito Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti. Todos tinham mais de 20 ou 30 anos de atuação, eram reconhecidos por sua intensa produção científica e líderes de grupos de pesquisa. Muitos tinham sido chefes de laboratórios, seções e divisões. Com isso, o IOC perdeu 14% do seu quadro de pesquisadores, que na época contava com 70 profissionais.

Artigo da HCSM retrata o resgate de acervo científico desmantelado durante a ditadura

O afastamento dos pesquisadores representou a extinção de linhas de pesquisa, impactou na formação de estudantes, levou à dispersão de coleções biológicas e ao fim de cooperações nacionais e internacionais. O diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite, comenta o impacto da perseguição aos cientistas. “Há meio século, a ciência e a sociedade brasileiras se deparavam, juntamente com a cassação desses célebres pesquisadores, com o desaparecimento de arquivos, documentos e dados científicos, o desmonte de laboratórios e coleções biológicas, além de perdas significativas de recursos”.

É o caso da coleção entomológica do IOC, que foi desmantelada, devido à dispersão provocada pelo Massacre de Manguinhos. Uma nota publicada pela revista História, Ciência, Saúde – Manguinhos mostra como foi o resgate do acervo histórico-científico. Acesse aqui e saiba mais.

No contexto dos 120 anos do Instituto e da Fundação Oswaldo Cruz, a ser celebrado em maio, José Paulo destaca que é necessário refletir sobre as perdas intangíveis também aportadas pelo episódio. “Na época, uma geração de jovens estudantes e pesquisadores perderam não somente o convívio com estas lideranças presentes cotidianamente em seus ambientes científicos. Seguramente perderam a oportunidade de uma formação científica mais robusta. Isso deixa uma cicatriz que nos marca para sempre e nos impulsiona a não permitir que esta história se repita em nossa instituição”, reforça.

Porto Livre e Memória Viva: coleção da Fiocruz em acesso aberto ao público

O massacre de Manguinhos é o primeiro livro da coleção Memória Viva, que busca tornar acessíveis ao público obras de grande relevância acadêmica e institucional para a Fiocruz. A obra foi reeditada em 2019, pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), em parceria com a Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), a Editora Fiocruz e o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

A publicação está disponível para download no Porto Livre, portal de livros em acesso aberto da Fiocruz. Os textos podem ser copiados e compartilhados desde que não sejam utilizados para fins comerciais, que seja citada a fonte e que os devidos créditos sejam atribuídos, conforme a Política de Acesso Aberto ao Conhecimento da Fiocruz.

Com informações de Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)*

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