A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e mais 32 revistas científicas, ONGs, fundos e institutos de pesquisa assinaram, no dia 10/2, uma declaração conjunta na qual se comprometem a compartilhar, de forma rápida e aberta, dados e resultados relevantes de pesquisas que possam ajudar na crise ocasionada pelo Zika Vírus e em outras emergências de saúde pública. O objetivo da iniciativa é garantir que qualquer informação de valor para a saúde pública seja disponibilizada gratuitamente e o mais rápido possível para a comunidade internacional, sem impedir pesquisadores de, posteriormente, publicar os dados apresentados em seus artigos. A expectativa é que outras instituições também passem a aderir à causa nas próximas semanas.
Para a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, "é fundamental a Fiocruz e outras instituições serem signatárias deste acordo que, no caso da pesquisa sobre zika, altera o padrão da comunicação científica, com a publicação mais rápida e a gratuidade em periódicos que usualmente requerem pagamento dos autores. Estamos diante de uma grave crise sanitária reconhecida mundialmente: já obtivemos algumas evidências científicas, mas ainda há muitas perguntas sem resposta, que demandam uma ação intensa por parte das instituições de pesquisa”. Ela lembra que o acordo inclui a divulgação de notas de pesquisa ou dados de estudos em desenvolvimento. "Isso é coerente com a gravidade da situação que está mobilizando não só a comunidade científica nacional e internacional, mas também a sociedade”.
De acordo com Nísia, esse acordo também é favorável à Política de Acesso Aberto promovida pela Fiocruz. “A assinatura do acordo também contribui para o debate, ainda incipiente, que aponta a necessidade de compartilhar os dados de pesquisa e não apenas os artigos científicos, o produto final das investigações. O apoio de instituições e periódicos de pesquisa internacionais a esse acordo é um passo importante para essa discussão. Esperamos que mais instituições brasileiras possam aderir”, afirmou.
Para as instituições signatárias, a partilha de informações com a pré-publicação de dados e/ou resultados durante emergências de saúde pública deve se tornar a norma global. Cientistas em todo o mundo têm feito esforços para desenvolver uma vacina contra o Zika e conhecer melhor o vírus.
Na quinta-feira (11/2), o ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou que especialistas dos EUA iniciariam o trabalho de desenvolvimento de uma vacina contra o Zika em parceria com o Brasil.
Confira abaixo a declaração na íntegra (tradução livre) ou leia o texto original.
Declaração sobre o compartilhamento de dados em emergências de saúde pública:
Os argumentos para o compartilhamento de dados, e as consequências de não realizar, têm sido colocados em grande destaque devido aos surtos de ebola e zika.
No âmbito de uma emergência de saúde pública de preocupação internacional, é imperativo que todos os envolvidos tornem disponíveis quaisquer informações que possam ter valor no combate à crise.
Estamos comprometidos a trabalhar em parceria para garantir que a resposta global a situações de emergência de saúde pública seja nutrida pelos melhores dados e evidências de pesquisa disponíveis, tais como:
- Os periódicos signatários tornarão o acesso livre para todo o conteúdo relativo ao vírus zika. Quaisquer dados ou pré-impressões divulgadas sem restrição antes da submissão de qualquer artigo não impedirão a publicação deste em periódicos.
- Os signatários representantes de fundos financiadores irão exigir que pesquisadores que estão desenvolvendo trabalhos relevantes para emergências de saúde pública definam mecanismos de compartilhamento rápido e o mais aberto possível de dados intermediários e finais com qualidade assegurada, sobretudo, com a saúde pública, as comunidades de pesquisa e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Convocamos outras instituições a firmarem os mesmos compromissos.
Este compromisso está de acordo com consultoria especializada sobre compartilhamento de dados que foi realizada pela OMS no ano passado na qual é esperado que pesquisadores e especialistas partilhem dados na primeira oportunidade, uma vez que estes estiverem adequados para a divulgação e seguindo quaisquer medidas de segurança relativas a proteção de participantes ou pacientes.
Assinam a declaração:
- Academy of Medical Sciences, UK
- Bill and Melinda Gates Foundation
- Biotechnology and Biological Sciences Research Council (BBSRC)
- The British Medical Journal (BMJ)
- Bulletin of the World Health Organization
- Canadian Institutes of Health Research
- The Centers for Disease Control and Prevention
- Chinese Academy of Sciences
- Chinese Centre for Disease Control and Prevention
- The Department of Biotechnology, Government of India
- The Department for International Development (DFID)
- Deutsche Forschungsgemeinschaft (DFG)
- eLife
- The Economic and Social Research Council (ESRC)
- F1000
- Fondation Mérieux
- Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
- The Institut Pasteur
- Japan Agency for Medical Research and Development (AMED)
- The JAMA Network
- The Lancet
- Médecins Sans Frontières/Doctors Without Borders (MSF)
- National Academy of Medicine
- National Institutes of Health, USA
- National Science Foundation, USA
- The New England Journal of Medicine (NEJM)
- PLOS
- Science Journals
- South African Medical Research Council
- Springer Nature
- UK Medical Research Council
- Wellcome Trust
- The Netherlands Organisation for Health Research and Development (ZonMw)
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