Dia Mundial da Doença de Chagas (14/4) é celebrado, pela primeira vez, no calendário internacional da saúde

14/04/2020
Flávia Lobato (Portal de Periódicos Fiocruz) | Fotos: imagens e reproduções de Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, um cientista brasileiro, marca novamente a história da saúde. Em 14 de abril de 2020, pela primeira vez celebra-se o Dia Mundial da Doença de Chagas. A decisão foi tomada, em maio do ano passado, durante a 72ª Assembleia Mundial da Saúde, quando a descoberta da enfermidade já completava 110 anos. A data foi escolhida lembrando o dia em que Carlos Chagas identificou, pela primeira vez, o parasito Trypanosoma cruzi, causador da infecção, na paciente Berenice Soares. Publicada na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, em 1909, a descrição do ciclo da doença de Chagas foi um dos feitos mais emblemáticos da ciência nacional. Além de caracterizar o agente causador da infecção, o pesquisador descreveu o conjunto de sintomas na menina de 2 anos, que morava na cidade de Lassance (MG), e também identificou o inseto transmissor: o triatomíneo — popularmente conhecido como barbeiro.

Em comemoração ao dia 14 de abril, o Portal de Periódicos Fiocruz traz 14 conteúdos relacionados à doença de Chagas, publicados nas revistas científicas editadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O material contempla uma diversidade de aspectos relativos à enfermidade, chamada pelo próprio cientista de “a doença do Brasil”. Para ele, além da importância epidemiológica, a enfermidade retratava os males do Brasil rural, marcado pelas más condições de vida e de saúde e pelo abandono por parte do poder público.

O cuidado com as populações mais vulneráveis ainda é uma preocupação entre os cientistas. Foi mencionado por Rodrigo Correa, vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, ao celebrar o protagonismo da Fiocruz. Nos anos 1990, ele foi um dos fundadores (e primeiro coordenador) do Programa de Pesquisa Translacional em Doença de Chagas (Fio-Chagas). “Precisamos monitorar casos em regiões remotas. É fundamental recordar e alertar que a doença de Chagas não acabou e continua fazendo vítimas. A doença permanece entre nós. E as novas áreas de transmissão afetam, sobretudo, as populações mais pobres”.

Correa disse, ainda, que a Fiocruz mantém um olhar para o todo: a pesquisa, o vetor, o diagnóstico, o paciente, os medicamentos, o tratamento. “O Fio-Chagas reúne pesquisadores e grupos de pesquisa que lidam com a doença. É uma rede nacional e muito atuante, que abrange cientistas do Rio e de unidades regionais da Fiocruz. Pode-se dizer que é uma rede única no mundo”, comentou, referindo-se às características singulares da Fundação e ao papel que a instituição desempenha nos estudos da doença.

Doença de Chagas afeta cerca de 7 milhões de pessoas no mundo

A doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase americana, é causada pelo protozoário parasita Trypanosoma cruzi (T. cruzi). Está presente em 21 países da América Latina, afetando cerca de 6 a 7 milhões de pessoas no mundo e entre 2 a 3 milhões no Brasil. É transmitida principalmente aos seres humanos por contato com fezes ou urina de insetos triatomíneos (transmitidos por vetores). Sem tratamento, a doença de Chagas pode levar a graves alterações cardíacas e digestivas e se tornar fatal.

Tem sido denominada “doença silenciosa e silenciada”, não apenas por seu curso clínico lento e freqüentemente assintomático, mas também porque afeta principalmente pessoas pobres que não têm voz política ou acesso a serviços de saúde. Em seus estudos, Chagas assinalava que esta era “a doença do Brasil”. Não apenas por sua importância epidemiológica, mas sobretudo porque representava os males do Brasil rural, marcado pelas más condições de vida e de saúde e pelo abandono por parte do poder público.

As autoridades sanitárias têm buscado promover maior conscientização sobre essa doença tropical negligenciada, frequentemente diagnosticada em seus estágios finais, a fim de melhorar as taxas de tratamento e cura precoces e interromper sua transmissão. Isso inclui intervenções econômicas e baseadas em evidências, tais como triagem (sangue, órgãos e de recém-nascidos e crianças), detecção precoce de casos, tratamento imediato dos casos, controle de vetores, higiene e segurança alimentar.

Nas últimas décadas, a doença vem sendo cada vez mais detectada nos Estados Unidos da América e no Canadá, em muitos países europeus e em alguns países do Pacífico Ocidental, o que reforça a importância de constar como uma campanha de saúde em nível global.

O Portal de Periódicos Fiocruz selecionou artigos, edições especiais e outros conteúdos científicos sobre a doença de Chagas. Acesse e boa leitura!

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*Com informações da Agência Fiocruz de Notícias e da Organização Mundial da Saúde

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