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RECIIS aborda gestão da informação e da infodemia na segunda edição de 2025

Roberto Abib| RECIIS/ICICT

No segundo número do ano de 2025, e a primeira edição da RECIIS sem o Igor como editor científico desde 2017. Editores científicos e equipe editorial relembram o seu legado e testemunham sobre sua trajetória de vida entrelaçada com a história do periódico, onde foi “editor científico, editor associado, editor convidado, avaliador, autor, mentor, colega e amigo”. De acordo com Barcellos et al., por um olhar audaz e questionador, Igor ajudou a tracejar o caminho da revista até hoje, deixando marcas e princípios de continuidade. A edição também apresenta estudos sobre gestão em sistemas públicos de informação, estudos sobre a infodemia e sua gestão. A RECIIS (Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde) é editada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz). 

Em Notas de Conjuntura, Lucas da Costa Brandão apresenta definições sobre o conceito de infodemia, destacando-a como uma doença causada por um espalhamento de informações e desinformações de forma viral em ambientes digitais e físicos durante um surto de uma doença. Esse fenômeno causa confusões e comportamentos de risco, como desconfianças nas autoridades de saúde, podendo prejudicar a saúde da população.   

Como forma de remédio à infodemia, Brandão apresenta práticas interdisciplinares de ‘Gestão de Infodemia’ incentivadas por organizações internacionais e nacionais. Porém, o autor considera que tais ações ainda estão associadas a uma compressão apenas biológica desse fenômeno essencialmente social e restritas a desenvolvimento de tecnologias. 

Em artigos originais, a edição apresenta algumas análises sobre gestão da informação em sistemas de vigilância epidemiológica e controle social. Leandro et al. avaliam a qualidade da vigilância das infecções respiratórias agudas nas regiões de saúde brasileiras entre os anos de 2009 e 2021 por meio do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe. Os autores consideram que são necessárias melhorias para o enfrentamento dos surtos de infecções respiratórias agudas.  

Mota et al. identificam subsídios para formar um banco de informações que possam contribuir no monitoramento das deliberações das conferências e na gestão do conhecimento em saúde.  

Em estudos sobre os Sistemas Integrados de Vigilância dos Óbitos Maternos, Georgia de Oliveira Galimberti Zapata e Tatiana Rodrigues de Araujo Eleuterio procuraram entender as relações entre fatores de risco gestacionais e o desfecho em óbitos em residentes no município do Rio de Janeiro. As autoras consideram que os achados podem fortalecer dos cuidados com a saúde da mulher nas redes de atenção, no controle e na prevenção de complicações maternas graves e óbitos maternos.  

Perspectivas feministas, cuidado e comunicação com os usuários 

Cilente et al. analisam as práticas de um coletivo que trabalha com plantas medicinais na região serrana do Rio de Janeiro a partir de três perspectivas feministas sobre a noção do cuidado: ecofeminista; ético-política e cuidado como estratégia comunitária. A partir de tais perspectivas, as autoras revelam a possibilidade de ressignificar a ideia de cuidado, frequentemente usada para exercer poder e dominação.  

O número também traz estudos voltados à comunicação com o usuário dos serviços de saúde. Magalhães et al. buscam compreender a percepção e a participação de residentes multiprofissionais em saúde no processo de comunicação de más notícias, concluindo que é preciso investir em capacitação nesse campo a fim de diminuir os impactos negativos de uma comunicação inadequada no contexto hospitalar.  

Oliveira et al. questionam se os sites das unidades federativas do Brasil disponibilizam informações dos serviços do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (Ceaf) de forma suficiente, atualizada e em consonância com a digitalização dos serviços públicos na perspectiva de seus usuários. As autoras concluem que há disparidade entre os sites das secretarias de saúde no Brasil, porém há ganhos parciais com a disponibilidade de informações. 

O letramento em saúde consiste no desenvolvimento de competências para acessar, interpretar e utilizar informações e serviços de saúde. Lopes et al. avaliaram o letramento em saúde de técnicos administrativos do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará e constataram que menores de 52 anos possuem mais informações para cuidar da própria saúde e autodeclarados brancos têm maior suporte social para a saúde. 

Mídias, corpo e estilo de vida  

Vitor Gomes e Evertton Marques analisam o papel das mídias sociais na discussão de informações sobre o câncer em instituições do terceiro setor em Sergipe. O estudo destaca a colaboração do terceiro setor para ampliar o acesso à informação e promover uma abordagem humanizada e empática em relação ao câncer e aos pacientes oncológicos. 

Aspectos relacionados ao estilo de vida e boa forma também são questões discutidas em artigos originais nessa edição. Rosa et al. analisam o estilo de vida da audiência de um programa de televisão a fim de identificar a sua influência na saúde física, mental e na qualidade de vida do seu público. Carvalho et al. abordam a qualidade científica das informações de vídeos do YouTube sobre obesidade e tratamento farmacológico adequado.  

Silva et al. analisam os conteúdos sobre saúde, alimentação e emagrecimento produzidos por nutricionistas influenciadores digitais na plataforma Instagram. As autoras constataram que os influenciadores utilizam a própria imagem e as rotinas de vida como peça de inspiração e ideário de corpo e sucesso, o que pode reforçar os padrões estéticos vigentes. Elas consideram também que o debate quanto à pluralidade de corpos ainda é um desafio nos espaços sociais e nas redes sociais digitais.  

Na seção Resenha, Marcella Maria Monteiro Veira apresenta o livro ‘Boas práticas de saúde pública no Instagram: Estudo comparado entre Portugal e Brasil’, da autora Pâmela Pinto. A partir da obra, Marcella lança uma questão: as instituições de saúde devem desenvolver estratégias de comunicação pública nas redes sociais on-line de amplo alcance como o Instagram? Em concordância com a autora do livro, Marcella Vieira considera que a presença dos atores governamentais nesses espaços contribui no enfrentamento à desinformação, particularmente, relacionada à saúde.  

Igor Sacramento: legado e memórias  

A pesquisa crítica sobre a midiatização da saúde associada a um processo de espetacularização da vida, do sofrimento, do cuidado, da superação e de um ideal de corpo saudável, manifestado em narrativas pessoais nas mídias, marca a produção intelectual e a trilha traçada com capricho e obstinação por Igor Sacramento na relação entre informação, comunicação e saúde, conforme editorial escrito por Barcellos et al.  

Os autores pontuam que Igor, a partir de uma consistente produção, também pensava a midiatização como espaço de vozes marginalizadas, práticas populares e participativas de comunicação, estando assim ancorado aos estudos interdisciplinares e culturais da mídia. Igor teve também participação destacada no enfrentamento da pandemia de covid-19 com estudos sobre testemunhos e difusão de desinformações em saúde.  

Igor Sacramento faleceu no dia 21 de abril de 2025. Formou-se em jornalismo, cursou mestrado, doutorado e pós-doutorado na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ). Era pesquisador do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT), da Fundação Oswaldo Cruz. Foi professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura (PPGCOM/UFRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS/ICICT), onde atuou também como coordenador.  

  

Os textos escritos por e com Igor Sacramento e publicados na RECIIS estão agora reunidos numa coleção disponibilizada em acesso aberto no site do periódico.  

 

Clique aqui e acesse a Coleção Igor Sacramento 

A RECIIS é uma das iniciativas da Política de Acesso Aberto e não cobra taxa de processamento de artigos. Ela faz parte do Portal de Periódicos Fiocruz junto a outras oito publicações que oferecem livre acesso aos seus conteúdos.  

Clique aqui e acesse na íntegra a edição v. 19 n. 2 

 

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