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“Quem é dono do conhecimento? Fiocruz participa da Semana Internacional do Acesso Aberto

Dialogando com o tema  “Quem é dono do conhecimento?”, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) abriu, na quarta-feira (22/10), uma série de eventos pela Semana Internacional do Acesso Aberto 2025 — evento anual que convoca a sua comunidade  a conhecer os benefícios e atuar em prol do acesso aberto à literatura científica. Realizado no Salão de Periódicos da Biblioteca de Manguinhos, o encontro integrou a programação da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) 2025 e reuniu dirigentes e pesquisadores da instituição para debater os desafios e oportunidades da ciência aberta no contexto atual. 
 
O diretor do Instituto de Informação Científica e Tecnológica da Fiocruz (Icict), Adriano da Silva, abriu o encontro pela manhã destacando a importância do debate sobre o acesso aberto e a necessidade de refletir sobre a pergunta central do evento. Segundo ele, discutir a propriedade do conhecimento é fundamental para o país, especialmente em tempos marcados pela desinformação, pelo negacionismo e pela hesitação vacinal.  

Adriano ressaltou que a ciência aberta deve ir além do acesso à informação, buscando promover o uso efetivo e responsável do conhecimento. “Precisamos que o acesso aberto resulte em um uso competente, ético, voltado para o bem público e para o fortalecimento da saúde coletiva”, afirmou. 
 
Em seguida, a coordenadora do programa Inova Fiocruz, Claude Pirmez, ressaltou que a ciência aberta é também uma alavanca de inovação. A pesquisadora destacou que abrir o conhecimento científico impulsiona o desenvolvimento tecnológico e social, desde que haja responsabilidade e infraestrutura adequada para sustentar esse processo.  

Claude apontou a necessidade de construir repositórios interoperáveis, investir em sistemas sustentáveis e criar uma cultura institucional de compartilhamento. “A ciência aberta é nossa maior aliada nesse momento. Ela abre portas para um futuro mais justo, sustentável e solidário”, afirmou, lembrando que a democratização do conhecimento também se refere ao enfrentamento de desigualdades históricas na produção e no acesso à ciência. 
 
A vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), Marly Cruz, representando o presidente da Fiocruz, Mário Moreira, destacou o caráter transformador da ciência aberta e a importância da integração entre informação, educação, comunicação e pesquisa. Para ela, abrir dados, métodos e resultados não é apenas uma prática científica, mas um compromisso com o futuro, que permite que o conhecimento circule entre cientistas e sociedade.  

“A ciência aberta é mais do que uma forma de pesquisa — é um convite à transformação”, disse. Marly também parabenizou o trabalho conjunto entre vice-presidências e núcleos institucionais, destacando o papel de Vanessa Jorge, coordenadora da área de Informação da VPEIC, e o protagonismo da Fiocruz na implementação de sua política de acesso aberto. 
 
Mesa-redonda debate avaliação da ciência  

Em seguida, os participantes acompanharam a mesa temática “Ciência aberta, avaliação da ciência: desafios e oportunidades nacionais e internacionais”, mediada por Kizi Araujo, pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz, e por Vanessa Jorge (VPEIC). Participaram do debate Giovanna Lima (Declaração de São Francisco, Dora) e Talita Moreira (Capes) e Fábio Gouveia, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). 
 
Gouveia falou das mudanças nos critérios de avaliação da produção científica no Brasil e da valorização de pesquisas socialmente relevantes, mesmo fora dos grandes centros. Ele destacou que a nova proposta de avaliação das pós-graduações brasileiras passa a considerar a originalidade, a relevância social e a aplicabilidade das pesquisas, respeitando as especificidades de cada área do conhecimento. Para o professor, a mudança pode beneficiar estudos com forte impacto local, como os voltados à medicina tropical. “Se a gente fosse levar em consideração apenas o volume de citações ou o fator de impacto das revistas, áreas como a medicina tropical jamais competiriam com campos como câncer ou Alzheimer, que têm outra dinâmica no Norte global”, explicou. 
 
Já Giovana Lima destacou os desafios e transformações na avaliação da pesquisa científica, ressaltando que todos os atores do ecossistema acadêmico — pesquisadores, pareceristas, agências de fomento e instituições — estão envolvidos nesse processo. Representando a iniciativa Dora, ela explicou que o movimento busca práticas mais justas e responsáveis de avaliação, que considerem não apenas métricas quantitativas, mas também a qualidade, a integridade e a relevância social das pesquisas. “A forma como se mede a ciência influencia diretamente o comportamento dos pesquisadores e o tipo de conhecimento que é produzido”, afirmou. 
 
Em sua apresentação, Talita Moreira, da Capes, destacou as mudanças estruturais no novo modelo de avaliação da pós-graduação brasileira, com foco na valorização da ciência aberta, da ética na publicação e do impacto social da pesquisa. Ela explicou que o modelo incentiva o compartilhamento de dados, códigos e materiais de pesquisa em repositórios institucionais, ampliando a transparência e o acesso ao conhecimento. “Publicar resultados de pesquisa em acesso aberto, sempre que possível, e compartilhar dados de forma transparente são práticas que fortalecem a ciência e permitem sua reutilização”, afirmou. Entre as novidades, mencionou a inclusão da inteligência artificial como tema transversal e a criação dos casos de impacto, que priorizam análises qualitativas sobre como o conhecimento científico gera benefícios concretos para a sociedade. 
 
Outro ponto central abordado por Talita foi o avanço na interoperabilidade de dados entre as instituições e as plataformas de indexação científica, como a Scopus. Ela apresentou o Guia de Interoperabilidade da Pós-Graduação, lançado recentemente pela Capes, que busca automatizar a coleta e integração de informações, reduzindo o retrabalho e aumentando a qualidade dos dados. “A interoperabilidade é o caminho para coletar dados de forma automática, direta da fonte, garantindo mais qualidade e menos retrabalho para as instituições”, afirmou. A iniciativa, que já conta com a adesão da Fiocruz e de outras 21 instituições, tem o objetivo de criar um ecossistema digital mais eficiente e transparente sobre os Programas de Pós-Graduação brasileiros. 

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