Aniversário da Fiocruz: entrevista com editor-chefe das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz

Luisa Picanço

Em 2023 queremos divulgar um pouco mais sobre a história de cada revista científica da Fiocruz. Por isso, desde o começo do semestre, conversamos com editores sobre os aniversários dos nossos periódicos. A ideia era entender um pouco sobre a história, trajetória, desafios e conquistas de cada um dos nove periódicos.  

Para começar esta série, em comemoração ao aniversário de 123 anos da Fiocruz, publicamos a entrevista concedida pelo pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz e atual editor-chefe das Memórias IOC, Adeilton Brandão. Ele colabora com a revista desde 2012 e tem ideias inovadoras para manter uma das revistas mais antigas do país atualizada com os avanços científicos. Confira abaixo a entrevista! 

Editor-chefe da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Adeiltono Brandão em entrevista

Portal de Periódicos (PP): Gostaria que você explicasse o histórico da revista Memórias. Vamos começar pelo tempo da revista. Tem uma polêmica, certo? São 114 ou 116 anos?  

Adeilton Brandão: Então, na prática, a gente tem duas datas para serem celebradas. A data, digamos, formal ou oficial, que se refere a um decreto de dezembro de 1907. Então, por esse decreto, teríamos 116 anos em 2023. Mas a revista só entrou em circulação em abril de 1909. Então, essa tem sido, digamos, a data celebrada. Porque, de fato, o que valia na época da revista impressa era a revista na mão dos leitores ou dos autores.

Nesse caso, nós temos a referência a abril de 1909, quando surgiu o primeiro número. Logo, temos a data de 114 anos. 

PP: E o nome da revista? 

AB: O nome da revista é Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Ele nasce do decreto.  A revista até 1950 e pouco era exclusivamente dos pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz. Aí, de 1950 até 1960, era preferencialmente destes pesquisadores e só depois, de 1960 até 1975, puderam ser aceitos trabalhos de outras instituições. 

Detalhe da ediçâo de 1909 da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz

PP: E depois dos anos 1970? 

A partir de 1980 foi o que eu chamo de “O Resgate da Revista Memórias” feito pelo professor José Rodrigues Coura, que foi o editor da Memórias em dois momentos e em particular, em 1979, ele era o diretor do Instituto Oswaldo Cruz. 

Ele assumiu a editoria da revista e resgatou a revista que estava sem circulação há dois anos. Quer dizer, três anos. Então ele resgata a revista e a coloca de novo em circulação. 

Na história da revista Memórias existem três figuras realmente simbólicas. O Osvaldo Cruz, que criou e editou até a sua morte a Memórias, o Carlos Chagas, uma vez que o artigo de Carlos Chagas é o artigo mais importante da revista Memórias e é um dos artigos que define, de certa maneira, a ciência brasileira e o professor José Rodrigues Coura, porque ele resgatou a revista e depois foi editor. Coube a ele o processo de resgatar a revista e de também lançar as bases da revista como é hoje, que é uma revista internacional.  

A revista Memórias se torna internacional à medida que ela passa a ser uma revista que aceita trabalhos de pesquisadores de qualquer lugar do mundo. Ela não é mais uma revista exclusiva institucional. Enfim, ela também tem circulação em outros países, em bibliotecas. 

PP: A gente pode dizer que a história da revista Memórias se mistura um pouco à história da pesquisa no Brasil? 

O próprio Instituto Osvaldo Cruz é, de certa maneira, uma parte da pesquisa no Brasil.

É interessante olhar isso do ponto de como era o artigo científico porque os pesquisadores do Instituto Osvaldo Cruz, apesar de terem a revista Memórias para publicações exclusivas, eles também publicavam em outras revistas e ali eles mudavam o formato do artigo, porque na revista Memórias, há uma característica dos trabalhos até 1976. Eles eram quase como monografias, aquela coisa longa.  

Sim, tinham os trabalhos originais, sempre teve. A revista sempre teve essa característica, mas eram trabalhos muito longos e naquele momento as revistas ditas internacionais e mesmo aqui no Brasil, elas já estavam começando a absorver aquele processo que era muito comum nas revistas dos Estados Unidos, a partir da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos se tornam o país que define e começa a definir a ciência mundial e as publicações começam a seguir o modelo americano. 

Então naquele momento, a revista Memórias, ela meio que fica num caminho intermediário. Ela serve aos pesquisadores do Instituto Osvaldo Cruz, naquele processo, de divulgar de maneira mais flexível, ampla, os seus trabalhos, quase monografias, mas ao mesmo tempo publica trabalhos originais. 

PP: E quando foi que a revista Memórias passou a ser publicada em inglês? 

A revista Memórias desde o seu início e está assim nos primeiros números, era uma revista bilingue. Com publicações em português e em alemão. A questão do alemão naquela época é porque havia uma liderança da ciência alemã no mundo. Alemanha, França, Inglaterra eram, digamos, os padrões daquela época e aqui no Brasil, e em particular no Instituto Osvaldo Cruz, havia uma influência grande de pesquisadores alemães. Inclusive, naquela época havia alguns pesquisadores alemães que faziam uma espécie de ano sabático no IOC. 

Depois a revista passou a publicar mais em português. Ela perdeu um pouco essa característica e aí ficou durante muito tempo apenas em português. Dos anos 1950, 1960 até o seu resgate lá nos anos 1980. 

O Coura, nesse processo de modernizar a revista, eu não sei exatamente se ele chegou a fazer isso de maneira mais direta, mas aparecia eventualmente algum artigo inglês. Respondendo à pergunta, a Memórias mudou efetivamente para o inglês em 1989. Tem até uma matéria da Folha de São Paulo sobre o assunto. PP: Podemos dizer que a mudança para o inglês foi importante para a revista, foi um marco? 

Esse foi um passo importante porque a revista estava se encaminhando para o processo de consolidar e a internacionalização. Depois da Segunda Guerra Mundial, com a consolidação científica militar da tecnologia dos Estados Unidos, o inglês passa a ser a língua franca da ciência. E aí qualquer revista, qualquer iniciativa que queira se inserir na ciência de maneira internacional e global, tinha que fazer isso por meio do inglês. A revista Memórias fez isso a partir de 1989, então foi um passo importante. 

PP: Foram os pesquisadores ou foram os editores que não gostaram da mudança da língua oficial da Memórias? 

Foram os pesquisadores. A revista Memórias se posiciona como de fato uma revista que agora poderia ser lida por qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo. Mas isso gerou reações internas.  

Na época, um pesquisador entrou na Justiça. Eram um dos pesquisadores mais importantes do IOC. Ele fazia parte do grupo dos pesquisadores que tinham sido cassados durante a ditadura. Em 1979 ele retornou. E quando ele viu a notícia de que a Memórias só aceitaria artigos em inglês, ele entrou na Justiça pleiteando o direito de continuar publicando em português. O juiz que avaliou o processo, entendeu que ele tinha razão e deu a ele o direito de enviar os artigos em português. 

E a revista Memória, obviamente, editou os artigos do pesquisador. Tinha que cumprir a decisão judicial. O que aconteceu foi que o editor solicitou então um parecer a dois pesquisadores para avaliar se o artigo estava adequado para o novo padrão da revista independente da língua inglesa. Os avaliadores entenderam que o artigo não tinha muita novidade. E fizemos tudo dentro do que foi acordado. O que o juiz garantiu a ele foi o direito de submeter o artigo. 

PP: E depois disso ninguém mais pediu para publicar em português? 

Em princípio, a revista até hoje não bloqueia uma pessoa que queira submeter um artigo em português. No nosso atual sistema não tem um mecanismo que verifica se a pessoa está enviando um artigo em português ou em inglês. Mas a nossa política editorial é que só serão publicados artigos que estão em inglês. Então, quando chega um artigo em português, a gente devolve o artigo para o autor. 

Eu acho que o título da revista ser em português estimula esse comportamento, porque na nossa política está muito explícito. A gente só aceita artigos em inglês.  

Muitas vezes, quando eu vejo lá o artigo em português submetido, eu fico me perguntando se a pessoa submeteu e não leu a política editorial, o que é uma coisa grave, porque a primeira coisa que um autor, um pesquisador ou a pesquisadora tem que fazer é ler a política editorial da revista ou as instruções para os autores a qual você vai submeter.  

O nosso processo de submissão é longo. Você tem que dizer por que que o artigo é importante, por que você acha que a revista Memórias tem que publicar... Ou seja, você gasta no mínimo as duas horas fazendo aquele negócio. Mas acho que a maioria dessas submissões em português é para atender esses, digamos, pré-requisitos para um indivíduo cumprir alguma norma, para submeter um relatório para fechar, porque diz “meu artigo está em análise, não foi aceito, mas está lá.”

Também penso que o título em português influencia esse envio. 

PP: E por que o título da revista é em português se a revista é toda em língua inglesa? 

A revista tem um título em português primeiro porque ela é a revista mais antiga em circulação, embora não de forma ininterrupta. 

A marca Memórias do Instituto Osvaldo Cruz é uma marca que já está consolidada há mais de cem anos. E aí, tem uma outra questão prática que tem a ver com o sistema de classificação das revistas, em particular a classificação que hoje é utilizada pelas bases de dados para fator de impacto e outras métricas. Quando uma revista muda de nome, todas essas métricas, elas têm que começar do zero.   

PP: E esse momento de interrupção da revista, como foi isso?  

A Fiocruz vinha daquele processo ainda no final da ditadura. Lembrando que tem uma questão aí que a Fundação Osvaldo Cruz, da maneira como a gente a conhece hoje, ela foi criada em 1970, tendo como base os Instituto Oswaldo Cruz e a Escola Nacional de Saúde Pública. 

A estrutura não estava funcionando muito bem. Houve cassação de pesquisadores. Havia uma apatia meio que generalizada. Então, é nesse cenário que o diretor Coura encontra a revista Memórias. Paralisada, com muitos artigos acumulados ali e precisando de uma modernização. Eu não sei em que medida, mas seguramente aquele final da ditadura brasileira e aquele processo que começa lá na cassação dos pesquisadores teve impacto. 

PP: Falando um pouco sobre o momento atual da revista Memórias. Quais são as perspectivas? 

Estamos num processo de discussão sobre o futuro da revista Memórias, do Instituto Oswaldo Cruz. Por exemplo, nós já temos aqui a consolidação de todo o processo da ciência aberta, que inclui, entre outras coisas, o surgimento da publicação imediata por meio dos repositórios de pré-publicação. E a revisão aberta pelos pares, a abertura de dados, enfim, tudo isso é parte desse grande processo que a gente chama de ciência aberta. 

As revistas tinham o monopólio da divulgação da informação em primeira mão, em particular, revistas da área biomédica e de medicina. Então, com o surgimento do movimento de ciência aberta, as revistas da ciência biomédica perdem o monopólio da divulgação da informação científica. Depois, começou a revisão aberta pelos pares. Um outro monopólio que está começando a ser alterado. Então, se as revistas já perderam o monopólio da informação, se elas perdem o monopólio da revisão pelos pares, a pergunta é: o que sobra para a revista? Sobraria talvez o prestígio que uma determinada revista confere ao trabalho. É nesse cenário que a gente está discutindo o futuro da Memórias. 

Isso vai resultar na consolidação das chamadas plataformas de publicação. A gente já tem duas ou três plataformas funcionando, mas elas estão vinculadas a organizações de financiamento, privados ou não governamentais, que é o caso da Fundação Bill Gates e da Wellcome Trust. Mas já há movimentos para que os governos nacionais construam plataformas, porque isso está acontecendo também em função do custo crescente para se publicar em acesso aberto.  

Então, qual é o futuro para uma revista como a Memórias e que, de resto, seria o futuro de qualquer revista editada aqui no Brasil?  

A probabilidade é que essas revistas desapareçam ou se tornem irrelevantes porque se os pesquisadores de cada instituição forem publicar numa plataforma, isso significa que ao terminar o seu artigo, ele não vai ter necessidade de enviar para a revista, porque se a plataforma de publicação está oferecendo a visibilidade imediata, o controle de qualidade, a revisão pelos pares e todos os outros processos ligados à boa divulgação científica, por que você vai pagar para enviar para uma revista? 

Pelo prestígio? Aí é que entra a questão do mandato. Então, se esse cenário se construir, as revistas perdem a sua razão de existir e elas vão ser fechadas. O lado bom dessa história é que todas as revistas caça níqueis predatórias vão desaparecer. Isso é bom. Mas, por outro lado, revistas como a Memórias do IOC, a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, a Revista da Sociedade Brasileira de Genética, todas deixarão de existir. Se não for feita nenhuma discussão agora sobre o que queremos da revista Memórias, daqui a dez anos ou 15 anos essa revista vai se tornar irrelevante. 

Porque a revista baseada nesse processo de identificar o editor, ficar ali de trás de um balcão, os autores pedindo para publicar, esse modelo, está em xeque e, na minha avaliação, ele vai desaparecer. Exceto, talvez, para alguma revista de altíssimo prestígio como a Nature ou Science, talvez. Mas mesmo essas também, se não mudarem os seus processos, vão perder relevância. 

PP: Então é um momento em que é preciso rever o que é prioridade na revista? 

É um ponto de inflexão. Então, para poder detalhar melhor isso aqui, rapidamente nós criamos, a diretoria do IOC criou um grupo de trabalho que, entre outras objetivos, vai discutir o melhor cenário para a Revista Memória.  

Não é uma decisão exclusivamente minha, é um processo de decisão do IOC. É um processo que tem não só componentes culturais e de organização interna, mas também político. Com certeza depende da relação desse processo com os programas de pós-graduação, com as agências financiadoras. Então, idealmente, essa conversão da Revista Memórias tem que ser feita com a participação da Fiocruz e com o SciELO, que é um elemento importante nesse processo dos programas de pós-graduação. 

Não é um tema fácil, porque tem todos esses lados que devem ser conciliados.  

Capas históricas da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz

PP: Quais as dificuldades? 

Hoje quem está num programa de pós-graduação aqui na Fiocruz ou em qualquer outro no Brasil, tem que atender regras dos programas, que muitas vezes são regras que os programas seguem a partir das orientações da CAPES. Por exemplo, há a determinação de que os docentes dos programas têm que publicar um certo número de artigos em um determinado período em revistas com um certo fator de impacto, para poder preencher os requisitos que são definidos pela CAPES. No final, isso pode definir se aquele programa de pós-graduação vai continuar no nível cinco, seis, sete. E isso faz com que a maioria das revistas editadas aqui no Brasil não sejam incluídas nesse negócio, porque, infelizmente, as revistas têm fator de impacto baixo.  

E aí a gente chega na questão: as revistas editadas no Brasil têm fator de impacto baixo porque elas são editadas no Brasil exclusivamente ou elas têm fator de impacto baixo porque os artigos que elas recebem são artigos que não são considerados os melhores pelos autores, por que os melhores artigos vão para revistas de fator de impacto elevado? 

Temos um ciclo que é não virtuoso, sem receber, ela tem fator de impacto baixo. Portanto, ela recebe os artigos que os autores consideram que vão ter um impacto baixo, então ela nunca consegue sair desse ciclo. Por outro lado, as revistas que estão com fator de impacto elevado recebem os melhores artigos e continuam mantendo seu fator de impacto elevado. 

O problema é o fator de impacto. A Memórias tem fator de impacto em torno de dois e com esse fator de impacto você não consegue se posicionar entre os melhores programas de Pós-Graduação. Logo, nenhum docente vai querer enviar seu melhor trabalho para essa revista. Isso nos leva a uma pergunta altamente relevante que todo mundo tem que fazer e nós aqui fazemos. E qual é a razão de existir de revistas editadas aqui no Brasil? Para que elas servem? A quem elas servem? Por que a gente investe tempo, inteligência e recursos para publicar uma coisa que o próprio sistema não avalia?  

Um exemplo interessante é o caso da Academia Brasileira de Ciências e a sua revista. A Academia Brasileira de Ciências é talvez a organização que reúne as melhores pessoas da pesquisa no Brasil, as melhores cientistas, os melhores cientistas. É uma organização de grande prestígio e ela publica uma revista que é a mais antiga de circulação ininterrupta. Então, a academia que reúne os melhores cientistas do Brasil publica uma revista científica. Seria natural imaginar que essa revista publicasse o trabalho dos seus membros. Mas os artigos publicados lá, raramente são de membros da Academia de Ciência. E aí, qual é a consequência disso? Os melhores cientistas produzem os melhores trabalhos, mas não publicam naquela revista. O resultado: os trabalhos que estão ali têm pouca repercussão, podem ter alguma relevância, mas têm pouca repercussão. A situação que acontece com o análogo dessa revista nos Estados Unidos é bem diferente. Os Anais da Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos é uma revista de alto prestígio. Ela está entre as dez revistas mais importantes dos Estados Unidos. E se a gente for olhar quem está publicando essa revista, você vai ver. Existem membros da academia publicando nos anais. 

PP: Você acha que falta um resgate dos pesquisadores às revistas brasileiras? 

Eu acho que falta uma mudança nos incentivos. Porque se você perguntar por que o membro que faz parte da Academia Brasileira de Ciência, não publica o seu melhor trabalho na própria revista da Academia, ele vai dizer que é porque faz parte de um programa de pós-graduação que exige que ele envie o trabalho para uma revista de alto impacto. Mas o problema é que o alto impacto ou o baixo impacto é resultado desse sistema. 

PP: O próprio fator de impacto é questionável? 

Estou falando do fator de impacto porque é a métrica mais usada, mas se a gente usar qualquer outra combinação de métricas, qualquer outra métrica mais ou menos converge para esse ponto. Uma revista é o teor, o conteúdo dos artigos que ela publica. É por isso que, nessa discussão sobre o futuro da revista, também está incluído, porque a gente aloca tempo, recursos para convidar pessoas para avaliar artigo, porque eles não querem ler, não querem avaliar. 

Ora, quando você coloca um artigo num repositório de preprints, se o tema lhe é interessante, aquilo rapidamente se espalha como pólvora, né? As pessoas vão ler mesmo antes da revisão pelos pares e tal, o artigo começa a ser repercutido e isso é interessante. 

Agora, se a pessoa coloca lá um artigo numa revista, seja Memórias ou qualquer outra e ninguém se interessa por esse artigo, ou seja, se você tem dificuldade para arrumar revisores, então por que publicar um artigo desses? Esse é um sistema que precisa mudar. 

PP: Como mudar? 

Vamos transformar tudo em plataforma de publicação. É a opinião que eu tenho hoje. Vamos converter a revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz e as outras revistas brasileiras numa plataforma e estabelecer mandatos.  

O financiador argumenta “Olha, se você recebeu dinheiro público dessa agência, recurso federal, você tem que publicar nessa plataforma, por que nós dessa agência, não vamos pagar 30.000 R$ para você publicar o artigo numa revista.” Nesse ponto, a agência de financiamento tem esse poder para usar de forma eficiente. 

Na verdade, nós já temos o embrião dessa plataforma no SciELO. Na minha avaliação, a criação de uma plataforma de publicação aqui no Brasil, com a participação da Fiocruz, USP e outras instituições que são atores relevantes nesse processo, passa pelo SciELO. 

Assim como outras organizações têm um ponto focal dentro do SciELO, dentro dessa “SciELO Plataforma” os editores vão agilizar o processo de dar ali, digamos, um selo de que aquele artigo ali não é fake, etc.  

Mas para isso tem que haver uma mudança política.  O CNPq, que é o principal financiador do país, tem poder para isso. Esses bilhões aqui nesse próximo ano têm de usar aqui com a máxima eficiência possível. Assim, haverá o estímulo aos cientistas brasileiros a continuarem trabalhando dentro do Brasil, que tem suas particularidades, que tem sua própria forma de pensar. É isso. 

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