Um estudo realizado no Ceará entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024, publicado na Revista Trabalho, Educação e Saúde (TES), trouxe novas reflexões sobre a relação entre raça, saúde mental e cuidado no Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa analisou como o conceito de aquilombamento, entendido como uma prática coletiva de resistência e acolhimento, pode inspirar novas formas de atuação profissional e promover uma atenção mais ética e comprometida com grupos historicamente minorizados.
A partir dos discursos de 31 profissionais de saúde, o estudo investigou as práticas de cuidado oferecidas a mulheres negras usuárias da rede pública. A análise abordou três eixos principais: as percepções sobre o cuidado a mulheres negras nos serviços de saúde mental, a coleta do quesito raça/cor e a invisibilização das relações raciais, além do papel da Educação Permanente em Saúde como ferramenta de enfrentamento ao racismo institucional.
Os resultados apontam que o aquilombamento, na perspectiva da saúde mental, propõe um modo de trabalho que considera os determinantes sociais da saúde e valoriza a construção coletiva do saber. Essa abordagem se alinha aos paradigmas das reformas sanitária e psiquiátrica brasileiras, defendendo práticas pautadas na ética, na política e na amorosidade.
De acordo com os autores, a Educação Permanente surge como um instrumento essencial nesse processo. Além de promover o letramento racial entre profissionais e usuários, ela fortalece o compromisso com o cuidado integral, contribuindo para transformar o cotidiano dos serviços de saúde e ampliar o acolhimento às mulheres negras — e à população negra em geral.