O tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas todo ano, aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS). Dessas mortes, mais de 7 milhões resultam do uso direto da substância, enquanto cerca de 1,2 milhão trata-se de fumantes passivos. Durante a pandemia de Covid-19, pacientes tabagistas parecem ter buscado quase 80% menos tratamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) - é o que avalia um artigo recentemente publicado na revista Visa em Debate, periódico editado pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, da Fiocruz.
Assinado por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o estudo analisa de que forma os tabagistas foram negativamente impactados pela emergência sanitária do SARS-CoV-2. A pesquisa aponta-os como um grupo vulnerável, por conta das complicações de saúde que podem sofrer graças à doença.
Para a análise, foram utilizados dados de monitoramento do Programa Estadual de Controle ao Tabagismo, da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco. Entre os meses de maio e agosto de 2019, 3.282 pessoas buscaram tratamento para cessação do tabagismo no SUS, em Pernambuco. Em período similar de 2020, o mesmo tratamento foi procurado por apenas 680 usuários tabagistas: uma queda de 79,28%. Ou seja, menos dependentes de tabaco buscaram ajuda após o início da pandemia e das medidas de isolamento social.
A pesquisa mostra, também, que o número de municípios oferecendo o tratamento caiu de 97 para 36 (62,89%) e o número de unidades de saúde da atenção de 277 para 80 (71,11%). Além de menos pessoas procurando tratamento para parar de fumar, houve também uma oferta menor de atendimento a tabagistas pelo SUS.
Os brasileiros estão fumando demais?
De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o tabagismo é uma doença crônica causada pela dependência à nicotina em produtos à base de tabaco. Muitos não sabem, mas o tabagismo integra o grupo de transtornos mentais e comportamentais - isso porque está assiociado ao uso de substâncias psicoativas. No Brasil, 443 pessoas morrem a cada dia por causa do tabagismo. É um total de 161.853 mortes anuais.
Em 2005, a OMS tornou a Política Nacional de Controle do Tabaco, uma política de Estado no Brasil. Desde então, de acordo com o artigo da Visa em Debate, a prevalência de fumantes no país caiu de 15,7% para 9,8% entre 2006 e 2019. O tratamento para cessação de fumar do SUS, juntamente com as ações educativas e a aprovação de leis relacionadas à prevenção do tabagismo, foram fundamentais para isso.
O Programa Nacional de Controle do Tabaco é coordenado pelo INCA. No entanto, as secretarias estaduais de saúde têm coordenações próprias, que oferecem suporte aos municípios. O artigo destaca que as atuais ações devem contemplar não só o tratamento, mas também a desestimular a iniciação ao fumo. Afinal, se menos pessoas começarem a fumar, menor será o número necessário de tratamentos em unidades de saúde.
Um mal disfarçado de "modinha"
Um assunto tem chamado a atenção da indústria tabagista e das instituições de saúde: o cigarro eletrônico. Popularizado recentemente, ele "imita" o cigarro comum, podendo ou não conter nicotina (encontrada em derivados do tabaco) em sua composição. Especialistas já apontaram que o uso de tais instrumentos pode, sim, causar danos à saúde e que a comercialização não deve ser estimulada. A Fiocruz promoveu, este mês, uma campanha contra a liberação dos dispositivos eletrônicos para fumo. Confira breve trecho*, na íntegra:
Os dispositivos eletrônicos para fumar, também conhecidos como cigarros eletrônicos, vaper, pod, e-cigarette, entre outras nomenclaturas, têm a comercialização, importação e propaganda proibida desde agosto de 2009, por resolução da Anvisa. Mesmo assim, segundo estimativas da BAT Brasil (antiga Souza Cruz), a maior empresa de tabaco do país, 2 milhões de brasileiros fazem uso dos cigarros eletrônicos.
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*Trecho obtido em texto de Luana Dandara, publicado em 11/04/2022 no Portal Fiocruz.