Em nota recente de posicionamento público, o Fórum de Editores de Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) manifestou preocupação com a forma como o critério de ineditismo vem sendo interpretado por algumas publicações científicas. De acordo com a nota, publicada em 26 de junho de 2025, artigos derivados de teses e dissertações depositadas em repositórios institucionais têm sido rejeitados sob a justificativa de autoplágio, o que, segundo a Abrasco, contraria princípios fundamentais da ciência aberta e da democratização do conhecimento.
A prática, de acordo com o documento, compromete a integridade do sistema de comunicação científica ao criar barreiras artificiais ao Acesso Aberto. "Rejeitar artigos com base em similaridade textual com teses e dissertações disponíveis em repositórios institucionais enfraquece a política de Acesso Aberto, além de retardar a divulgação de pesquisas, em grande parte financiadas com recursos públicos", afirma o texto.
O Fórum destaca que repositórios institucionais são instrumentos essenciais para a preservação da memória acadêmica e para a disseminação ampla da produção científica, especialmente em países periféricos. A recusa de artigos derivados dessas fontes, argumenta a nota do Fórum de Editores, desconsidera as diferenças entre as tipologias documentais e ignora a convivência legítima entre formatos distintos de comunicação da ciência, como artigos, teses, dissertações e preprints.
Outro ponto de atenção destacado pelo Fórum é que há o incentivo involuntário à publicação em periódicos predatórios, que não realizam avaliação por pares e impõem altos custos aos autores. Ao embargar a publicação de teses e dissertações até que os artigos derivados sejam aceitos, instituições e periódicos acabam estimulando práticas contrárias à transparência, à avaliação de qualidade e ao acesso público ao conhecimento.
Como caminhos possíveis, a Abrasco propõe que os periódicos incentivem a declaração de origem dos artigos, reconheçam o valor acadêmico de versões derivadas de teses e dissertações e se alinhem aos princípios da ciência aberta. O posicionamento reafirma o compromisso da associação com práticas editoriais éticas, inclusivas e comprometidas com o interesse público.
O posicionamento da Abrasco está disponível na íntegra no site da entidade.