Agosto Dourado: destaques dos Periódicos da Fiocruz

03/08/2023

No Brasil, desde 2017, o mês de agosto é chamado de Mês do Aleitamento Materno, também conhecido como Agosto Dourado. A primeira semana do mês, de 1° a 7 de agosto, é considerada a Semana Mundial do Aleitamento Materno (SMAM). A semana é celebrada em mais de 170 países, como iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e parceiros.

Em 2023, a campanha da Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno (WABA) tem como tema “Possibilitando a amamentação: fazendo a diferença para mães e pais que trabalham.” O assunto ressalta a importância da licença remunerada para mães e pais até os seis meses de idade da criança, além do incentivo ao apoio no local de trabalho para a continuidade da amamentação até os dois anos.

A amamentação tem um longo caminho histórico, com o protagonismo de mulheres e profissionais de saúde sobre a importância do aleitamento materno na saúde do bebê. Um exemplo de sucesso e de protagonismo feminino é o da implantação da Rede Latino-americana de Banco de Leite Humano, como relatado no artigo de Marlene Santos intitulado “A importância da cooperação sul-sul em saúde no processo de implantação da Rede Latino-americana de Banco de Leite Humano” publicado em 2018 no CIADS. Entre os resultados encontrados no artigo, um destaque é o papel ativo brasileiro no cenário internacional. “Foi possível identificar que os países da cooperação técnica internacional em Bancos de Leite Humano desenvolvida pelo Brasil, reconhecem que é uma estratégia que realmente contribui para redução da mortalidade na infância, mesmo que em territórios diferentes, os benefícios do banco de leite influenciam na qualidade de vida de neonatos, e ainda mais impacto para aqueles que condições de cuidado intensivo”, diz o artigo. Para Marlene, a cooperação sul-sul desenvolveu ao longo dos anos um discurso em prol da solidariedade e da redução das desigualdades nos países.

No entanto, o tema da amamentação nem sempre teve a equidade e o empoderamento feminino como foco. Em entrevista ao Blog da HSC Manguinhos, a pesquisadora Caroline Amorim Gil, falou de sua pesquisa de mestrado intitulada “Precisa-se ou aluga-se: o mapeamento de amas de leite na cidade do Rio de Janeiro na Primeira República”. O estudo teve como objetivo analisar a influência das amas de leite na dinâmica da cidade do Rio de Janeiro à época e sua presença em teses de alunos da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro quando a mortalidade infantil se tornava uma questão de saúde pública na cidade.

Se no início do século XXI, a Unicef e a Opas defendem que a mulher que trabalha tem o direito de amamentar durante o período recomendado na infância, a realidade do começo do século XX era bem diferente. No estudo de Caroline, que teve como base 1.600 anúncios de amas de leite presentes no Jornal do Brasil, entre 1900 e 1906, a autora observou o fato de que no início da República, o recurso da ama de leite foi “exercido por mulheres brancas, pardas e negras, brasileiras ou estrangeiras, que encontravam no puerpério uma forma de renda”. Ou seja, a amamentação era para algumas mulheres uma forma de trabalho.

A prática de se utilizar o serviço de ama de leite, no entanto, não acontece somente no começo do século XX. Trata-se de um cenário também visto no século anterior, em que a situação era ainda mais alarmante. Mulheres conhecidas como “amas de leite” sofriam diversos tipos de discriminação, especialmente o racismo. A análise deste momento pode ser vista nos textos “Perigosas amas de leite: aleitamento materno, ciência e escravidão em A Mãi de Familia” de Karoline Carula e “‘Amas mercenárias’: o discurso dos doutores em medicina e os retratos de amas – Brasil, segunda metade do século XIX” de Sandra Koutsoukos.

Em 100 anos, a sociedade pode ter avançado, tanto do ponto de vista econômico, quanto sanitário e social, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido do ponto de vista científico para garantir o direito de mães e filhos sobre o tema de aleitamento humano.

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